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20/08/2003

Ao Qu'isto Chegou! 

A recente campanha na (da?) RTP «Com o Turismo não se brinca» é absolutamente extraordinária. Ficámos a saber que somos um povo feio, porco e mau, ou pelo menos desonesto. Cuspimos para o chão, assoamos o nariz com os dedos (o célebre «lenço de cinco pontas»), somos feios, desdentados ou com dentes podres, malcheirosos, emporcalhamos as ruas, os cafés, os campos, somos malcriados, não temos respeito pelos outros, desavergonhadamente tentamos aldrabar os incautos turistas americanos e outros que visitam as nossas belezas naturais, os nossos museus, as nossas cidades.

Ou seja, o país é agradável, mesmo paradisíaco, mas tem um problema: é habitado, está ocupado por nós, os portugueses. Na campanha, o problema é não tanto o nosso suposto comportamento pouco civilizado em si mas o facto de com ele darmos uma má imagem do país a quem nos visita.

Não é uma campanha que promova a cidadania, a decência, os bons costumes, o que seria discutível, nem uma sátira a atitudes mais ou menos frequentes do povo que somos todos nós, e poderia ser saudável rirmos de nós próprios – é sim um insulto absolutamente gratuito à nossa cultura e ao caminho de modernização que todos temos percorrido desde há décadas. É, de algum modo, um serôdio retomar da ideia provinciana e salazarista de que somos (deveríamos ser) «pobres mas limpos e felizes» – um povo simples que sabe receber.

A conclusão que ressalta desta campanha é que seremos de facto um povo inculto, miserável e atrasado – se olharmos a imaginação e a graça dos promotores desta campanha...

A curiosidade de tudo isto é que a RTP provavelmente tomará a campanha como um exemplo do «serviço público» que presta ao país! Não há pachorra.

Portugal é «um pequeno país católico e conservador do Sul da Europa», como um dia ouvi numa rádio estrangeira. Temos muitas e muitas queixas da nossa condição: da falta de exercício da cidadania, da insensibilidade e desnorte dos nossos pobres governantes, autarcas e burocratas, da incapacidade de prever, prevenir e planear, ... mas somos muito mais coisas do que a imagem pelintra e cabotina da RTP (ou-lá-quem-é), umas boas e outras más; teremos certamente muito para mudar: temos que nos actualizar, ser mais competentes, mais dinâmicos, deveremos ter mais respeito por nós próprios e gostar mais de nós. Mas não nos venham dizer como devemos receber os turistas estrangeiros (um inquérito recente do Turismo de Lisboa revelou que 99,8% dos turistas recomendariam uma visita a Lisboa aos amigos e 75% encaram como provável o seu regresso à cidade)!

Só nos falta um dia termos o Pedro Santana Lopes como Presidente. Então, meus amigos, talvez mereçamos campanhas como esta.

07/08/2003

Acontece... e pelos vistos a ofensiva não vai parar 

Nunca fui um incondicional do «Acontece». Demasiado asséptico e «bem comportado» para o meu gosto. Pouco polémico, pouco ousado, por vezes com um ritmo desesperante. O décor pobrezinho, o genérico desengraçado, o formato vulgar. A apresentação... bom, preferia quando o CPC era mais interveniente, o programa era mais vivo, mais próximo do espectador (de mim).
Dito isto, via o programa com muita frequência. Não por ser o único no género (não tenho TV Cabo), nem por militância, muito menos por desfastio -- tenho curiosidade e interesse pelas coisas culturais e o programa ajudava a alimentar-me.

Mas a atitude de acabar com o programa vem na sequência de muitas outras que só podem ser interpretadas como um ataque sistemático à  cultura: no cinema, na dança, no teatro, nas artes plásticas, na leitura, na música e por aí­ adiante.

Como eu temia por alturas da mudança de governo: o desprezo pela cultura, a barbárie! E os bárbaros têm nomes: o ministro da cultura (como é que ele se chama?), Morais Sarmento, Pedro Santana Lopes, Rui Rio, António Capucho, Durão Barroso...

E se... o Santana Lopes fosse presidente?...

03/08/2003

Um dia destes, no Jornal 2 da RTP, Eduarda Napoleão, Vereadora da Câmara Municipal de Lisboa, dizia que a intervenção no Intendente não iria ser como a que foi feita no Casal Ventoso porque esta criou problemas sociais e o espaço foi abandonado: hoje deveria ser uma zona verde e o muro devia ir abaixo porque prejudica «a vista».
Ora bem, é disto mesmo que precisamos: de alguém com vistas largas, que tenha jeito para decoração e perceba de jardins, que se preocupe com os «sem-abrigos». Assim andaremos todos mais felizes.
Pena é que a ideia não seja muito original: recordemos o desejo de Manuel João Vieira de ver «Portugal alcatifado» e as suas promessas de acabar com a droga e os arrumadores, proibir o crime e instituir o Dia do Orgulho dos Sem-Abrigo.

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